sexta-feira, 2 de setembro de 2005

A outra margem....



Não é muito difícil percorrer um caminho em linha recta, mas é complicado perceber até que ponto é esse o percurso a seguir. Este pensamento atordoa-me de tempos a tempos. O problema, se calhar, é eu ser um "thinker", como algumas pessoas dizem. Questiono-me frequentemente sobre que caminho seguir, e se determinada rota me levará a bom porto. Gosto de descrever as coisas por palavras. Não tenho efectivamente o dom da oratória, exprimo-me melhor através da escrita. Gosto efectivamente de pensar.... pensar em tudo o que vejo no dia-a-dia, pensar sobre as minhas experiências, pensar sobre os sentimentos.... e observar. Gosto de escrever. Gosto de "falar" com o papel, porque não nos questiona, não nos interrompe, não tem expressão.... apesar de actualmente não o fazer.
Criei este blog exactamente para falar de mim, no entanto não posso escrever aqui tudo o que me vai na alma. Tenho de me conter muito mais do que se estivesse a fazê-lo para um papel. O facto de estar a expor os meus pensamentos na internet leva a que tenha de ter um cuidado redobrado, pois não me interessa partilhá-los com toda a gente. Desta forma, a maneira mais correcta é usar a alegoria e a metáfora. Quem me conhece consegue desvendar o que quero dizer. Desculpem-me os anónimos, mas este texto não é para eles.

A incerteza da vida é como uma ponte coberta de nevoeiro. Às vezes até julgamos poder ver o outro lado da margem... mas rapidamente ela fica difusa e perdêmo-la de novo. Continuamos a caminhar, a caminhar, parte-se uma tábua, caímos, levantamo-nos, olhamos a margem, erguemos o queixo... e lá vamos nós.
É doloroso pensar que nem todas as pontes são iguais. Assumindo que somos nós que as construímos, é intrigante imaginar que as tábuas partidas, pelo menos algumas, são por nossa culpa. A margem pode ficar mais longe, ou mais perto, conforme os nossos actos. Há também as outras tábuas que se vão partindo devido a acções externas e alheias à nossa vontade... e é graças a isso que surge a incerteza na nossa vida.

Às vezes gostaríamos que as coisas seguissem determinado caminho, mas nem sempre isso acontece. Por muito que achemos que é o correcto, quando nos damos conta... parte-se a tábua. Diria que este facto não é dramático, na medida em que, para chegar à outra margem, podemos sempre seguir um trajecto diferente. A questão aqui é quando temos consciência de que esse trajecto não nos deixará na margem que mais nos agrada. É como ser largado de uma ilha, atirado para mar alto num bote, e querer remar de novo para terra. Achamos realmente que aquele pedaço de terra é o sítio certo, mas a corrente impede-nos de voltar para a baía. Podemos sempre dar a volta, subir pelas montanhas e ficar por lá. Certamente também seríamos muito felizes.... mas nós gostaríamos mesmo é que nos deixassem ficar na praia. A nossa relação com aquela baía era forte, a areia era macia, os abrigos eram aconchegantes, as águas, cálidas, confortavam-nos. Tínhamos realmente vivido bons tempos naquele espaço. De um momento para o outro a maré sobe, como que uma tempestade, e quando menos esperamos já estamos a ver a ilha de longe. Sentimo-nos sem rumo. Tinha sido difícil conquistar a praia. Só com muito sacrífio e dedicação se conseguiu ultrapassar as correntes.... e agora vêmo-nos de novo tão longe. Não era isto que tínhamos em mente. Pior que tudo, as correntes estão mais fortes. No nosso bote não conseguiremos voltar. Aguardamos em mar alto...

...passaram dias.....

....meses.....

....pegamos nos binóculos, observamos a ilha..... damo-nos conta que na praia existe um novo habitante. Sem nos termos dado conta as correntes diminuiram numa zona da orla costeira e, o nosso paraíso está de novo habitado. Não da mesma forma, reparamos. Com o tempo a praia voltou a ficar selvagem, já não tem os abrigos de outrora, não parece tão aconchegante... mas com o tempo o novo habitante saberá adaptar-se.

Estamos mal.... a correntes ficaram fortes de novo e a experiência diz-nos que não mudarão nos próximos tempos. Não podemos ficar em mar alto eternamente, é certo. Podemos sempre procurar outra ilha, na medida em que sabemos que na vastidão do oceano existem muitas mais. No entanto, com um bote será complicado ter sucesso. Mas teremos outro remédio? Remamos para outras ilhas e eternamente procuraremos uma praia igual ou melhor? Esperaremos aqui onde estamos até que as correntes acalmem de novo... arriscando-nos a que o novo habitante colonize a praia por completo e depois seja tarde de mais para termos de novo uma vida no paraíso?.... ou contornamos então a ilha e galgamos as montanhas, apostando numa vida nova, sem certezas de felicidade e sem garantias de que, mesmo tentando chegar à praia, esse pedaço de terra já não seja o mesmo?

É complicado perceber que percurso devemos seguir....

Se por um lado sabemos que, se remarmos em busca de outra ilha, certamente conseguiremos achar algo que nos agrade, por outro sentimos que esta ilha é uma parte de nós, e que nesta praia, em particular, seríamos muito felizes, pois ela tinha tudo o que nós queríamos.

Voltamos a questionar-nos: "afinal de contas que caminho seguir?"

Se calhar todos nós revemos um período particular da nossa vida, ou uma situação semelhante, nesta descrição que acabei de fazer. Provavelmente já se questionaram sobre o assunto..... e eventualmente chegaram a uma conclusão. Resta saber se o caminho alternativo colheu bons frutos, ou se, porventura, os frutos que colheram, apesar de bons, ficam aquém dos de outrora.
Há quem conviva bem com isso; há quem inclusive se acomode, ao assumir que, se assim foi, é porque o destino assim o quis.
Eu não acredito muito no destino. Acho que somos nós que construimos a nossa vida. Tudo nela depende das nossas opções e actos, bem como dos tais factores que nos são alheios. No entanto, há determinadas situações que nos fazem pensar sobre isso. Foi uma coincidência? Um acaso? Como é possível determinada situação ter acontecido de forma tão perfeita, sem estar destinada previamente?
Às vezes, 3 segundos de atraso no elevador, leva a que nos encontremos à entrada do metro com um colega que não víamos há muito. Um azar na vida, obriga-nos a mudar de cidade, onde acabamos por encontrar o amor da nossa vida. Um anúncio no jornal leva-nos a tomar uma opção que alterará o nosso futuro completamente, sem o sabermos.
Mais tarde paramos para pensar sobre isto e ficamos sem saber até que ponto não estaria pré-destinado. E se assim aconteceu, porque o foi? E se estava pré-destinado, porque é que de repente tudo se desaba? Deixou de o estar?

Gosto de pensar sobre as casualidades da vida, de certa forma analisá-la, espremer cada momento em busca de respostas. Nem tudo tem de ter resposta, é certo. Há muita coisa que fica por responder, e certamente por questionar.
No dia-a-dia, com o trabalho, com a universidade, com os hobbies, amigos, copos, etc,.... ficamos com muito pouco tempo para analisar a nossa vida, a forma como a levamos, o que queremos para nós, e eventualmente para tomarmos decisões importantes. Há vezes em que até é melhor nem pensar sobre isso. É cómodo. É cómodo não pensar, não falar, não discutir, não questionar; é cómodo comportarmo-nos como os outros, para não ter o trabalho de justificar as diferenças que existem entre todos nós; é cómodo sermos reféns da sociedade e das opiniões; é cómodo não lutar por aquilo em que acreditamos, porque assim "até nem se está mal"; é cómodo deixar andar....
Ao fim ao cabo, muitas vezes o comodismo é a tábua partida na nossa ponte, é o que nos impede de chegar à outra margem, é o que torna o nossa visão difusa, é o que nos leva a tomar as opções erradas.

No fundo, entristece-me saber que "naquela" margem é que seríamos felizes.....

É triste saber que aquela ilha é que tem a praia dos nossos sonhos, e não outra qualquer....

É triste não saber o que fazer...

É triste...


Beijocas e Abraços

Gonça

9 comentários:

Régis disse...

Questionar é a chave para não nos acomodarmos.
Questionar não significa instalar a dúvida.
Questionar não significa criar insegurança.

Questionar é parte fundamental do método científico, pois é a única forma de se "limarem" arestas e optimizar a solução final.....

Claro está que a intuição e saber confiar nela (não confundir como destino) desempenha papel importantíssimo nas tomadas de decisão em consciência.

Incluído na tua alegoria (não resisti a comentar, já me conheces um pouco) com outro exercício.
Em termos de Teoria dos Jogos existem diversos intervenientes, sendo um deles O investidor. Ele pode ter dois perfis:
- Avesso ao Risco;
- Propenso ao Risco;

Saber o "nosso" perfil (adequado a cada situação) é a chave para saber em que carteira de títulos investir. Um investidor avesso ao risco não aposta em títulos bolsistas de curto ou curtíssimo prazo, uma vez que o risco associado para ter grande rentabilidade, é muito grande...ao contrário que o propenso ao risco investe em carteiras de risco proporcional à rentabilidade dos títulos.

Ou seja, a questão na maior parte das vezes, responde-se a ela própria. Basta apenas definir o nosso perfil e através disso definimos a nossa maneira de agir, obtendo os resultados esperados (ou não)......

Por isso cada situação em que temos de nos questionar serve sempre para nos descobrirmos, a nós próprios, um pouco melhor. Sabermos mais de nós mesmos, dos nossos limites, das nossas fraquezas ou pontos fortes.



PS - Gracias pela colocação do Link no teu blog...a tasca agradece.

Anónimo disse...

Já tive a praia dos meus sonhos, onde tinha tudo para ser feliz...mas perdi-me da ilha quando entrei no bote e, apanhei uma tempestade....fiquei em mar alto à espera que um dia pudesse regressar...afinal tinha a praia que eu mais amava!
Tentei mas não consegui remar contra a maré...andei às voltas...mas reparei que também já tinha colonos...não me apetece procurar mais ...contudo sei, que se der uma volta por esse oceano fora, talvez encontre outra praia, outra ilha, diferente por certo, mas quem sabe se não vou achar que essa nova ilha é que tem a praia dos meus sonhos?? Sempre pensei que fosse a outra....mas pela vida fora posso ter surpresas agradáveis....
Não pensei que não mais voltaria à praia dos meus sonhos....só sei que nada sei...e a vida é uma eterna surpresa :)
BEijocas Loirita

Anónimo disse...

Já andei à deriva num bote algumas vezes, mas felizmente encontrei a minha praia...É a praia dos meus sonhos, é a praia onde me sinto feliz pela primeira vez e é nesta praia onde encontro o reconforto dos dias menos bons. Todos nós um dia apanhamos o bote errado...todos nós um dia lutamos contra a maré...todos nós um dia vagueamos por ilhas erradas...mas,todos nós um dia atracamos na praia dos nossos sonhos! Eu lancei a ancora e espero que nâo se desprenda nunca, porque nesta praia vou ser sempre feliz!! Espero que todos vocês encontrem o caminho para a vossa praia... Bjinhos, Ritinha

Anónimo disse...

A minha praia preferida é a do Telheiro...
Gastone

Anónimo disse...
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Anónimo disse...
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Anónimo disse...
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Anónimo disse...

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Anónimo disse...

##Deadeasy##