Não é muito difícil percorrer um caminho em linha recta, mas é complicado perceber até que ponto é esse o percurso a seguir. Este pensamento atordoa-me de tempos a tempos. O problema, se calhar, é eu ser um "thinker", como algumas pessoas dizem. Questiono-me frequentemente sobre que caminho seguir, e se determinada rota me levará a bom porto. Gosto de descrever as coisas por palavras. Não tenho efectivamente o dom da oratória, exprimo-me melhor através da escrita. Gosto efectivamente de pensar.... pensar em tudo o que vejo no dia-a-dia, pensar sobre as minhas experiências, pensar sobre os sentimentos.... e observar. Gosto de escrever. Gosto de "falar" com o papel, porque não nos questiona, não nos interrompe, não tem expressão.... apesar de actualmente não o fazer.
Criei este blog exactamente para falar de mim, no entanto não posso escrever aqui tudo o que me vai na alma. Tenho de me conter muito mais do que se estivesse a fazê-lo para um papel. O facto de estar a expor os meus pensamentos na internet leva a que tenha de ter um cuidado redobrado, pois não me interessa partilhá-los com toda a gente. Desta forma, a maneira mais correcta é usar a alegoria e a metáfora. Quem me conhece consegue desvendar o que quero dizer. Desculpem-me os anónimos, mas este texto não é para eles.
A incerteza da vida é como uma ponte coberta de nevoeiro. Às vezes até julgamos poder ver o outro lado da margem... mas rapidamente ela fica difusa e perdêmo-la de novo. Continuamos a caminhar, a caminhar, parte-se uma tábua, caímos, levantamo-nos, olhamos a margem, erguemos o queixo... e lá vamos nós.
É doloroso pensar que nem todas as pontes são iguais. Assumindo que somos nós que as construímos, é intrigante imaginar que as tábuas partidas, pelo menos algumas, são por nossa culpa. A margem pode ficar mais longe, ou mais perto, conforme os nossos actos. Há também as outras tábuas que se vão partindo devido a acções externas e alheias à nossa vontade... e é graças a isso que surge a incerteza na nossa vida.
Às vezes gostaríamos que as coisas seguissem determinado caminho, mas nem sempre isso acontece. Por muito que achemos que é o correcto, quando nos damos conta... parte-se a tábua. Diria que este facto não é dramático, na medida em que, para chegar à outra margem, podemos sempre seguir um trajecto diferente. A questão aqui é quando temos consciência de que esse trajecto não nos deixará na margem que mais nos agrada. É como ser largado de uma ilha, atirado para mar alto num bote, e querer remar de novo para terra. Achamos realmente que aquele pedaço de terra é o sítio certo, mas a corrente impede-nos de voltar para a baía. Podemos sempre dar a volta, subir pelas montanhas e ficar por lá. Certamente também seríamos muito felizes.... mas nós gostaríamos mesmo é que nos deixassem ficar na praia. A nossa relação com aquela baía era forte, a areia era macia, os abrigos eram aconchegantes, as águas, cálidas, confortavam-nos. Tínhamos realmente vivido bons tempos naquele espaço. De um momento para o outro a maré sobe, como que uma tempestade, e quando menos esperamos já estamos a ver a ilha de longe. Sentimo-nos sem rumo. Tinha sido difícil conquistar a praia. Só com muito sacrífio e dedicação se conseguiu ultrapassar as correntes.... e agora vêmo-nos de novo tão longe. Não era isto que tínhamos em mente. Pior que tudo, as correntes estão mais fortes. No nosso bote não conseguiremos voltar. Aguardamos em mar alto...
...passaram dias.....
....meses.....
....pegamos nos binóculos, observamos a ilha..... damo-nos conta que na praia existe um novo habitante. Sem nos termos dado conta as correntes diminuiram numa zona da orla costeira e, o nosso paraíso está de novo habitado. Não da mesma forma, reparamos. Com o tempo a praia voltou a ficar selvagem, já não tem os abrigos de outrora, não parece tão aconchegante... mas com o tempo o novo habitante saberá adaptar-se.
Estamos mal.... a correntes ficaram fortes de novo e a experiência diz-nos que não mudarão nos próximos tempos. Não podemos ficar em mar alto eternamente, é certo. Podemos sempre procurar outra ilha, na medida em que sabemos que na vastidão do oceano existem muitas mais. No entanto, com um bote será complicado ter sucesso. Mas teremos outro remédio? Remamos para outras ilhas e eternamente procuraremos uma praia igual ou melhor? Esperaremos aqui onde estamos até que as correntes acalmem de novo... arriscando-nos a que o novo habitante colonize a praia por completo e depois seja tarde de mais para termos de novo uma vida no paraíso?.... ou contornamos então a ilha e galgamos as montanhas, apostando numa vida nova, sem certezas de felicidade e sem garantias de que, mesmo tentando chegar à praia, esse pedaço de terra já não seja o mesmo?
É complicado perceber que percurso devemos seguir....
Se por um lado sabemos que, se remarmos em busca de outra ilha, certamente conseguiremos achar algo que nos agrade, por outro sentimos que esta ilha é uma parte de nós, e que nesta praia, em particular, seríamos muito felizes, pois ela tinha tudo o que nós queríamos.
Voltamos a questionar-nos: "afinal de contas que caminho seguir?"
Se calhar todos nós revemos um período particular da nossa vida, ou uma situação semelhante, nesta descrição que acabei de fazer. Provavelmente já se questionaram sobre o assunto..... e eventualmente chegaram a uma conclusão. Resta saber se o caminho alternativo colheu bons frutos, ou se, porventura, os frutos que colheram, apesar de bons, ficam aquém dos de outrora.
Há quem conviva bem com isso; há quem inclusive se acomode, ao assumir que, se assim foi, é porque o destino assim o quis.
Eu não acredito muito no destino. Acho que somos nós que construimos a nossa vida. Tudo nela depende das nossas opções e actos, bem como dos tais factores que nos são alheios. No entanto, há determinadas situações que nos fazem pensar sobre isso. Foi uma coincidência? Um acaso? Como é possível determinada situação ter acontecido de forma tão perfeita, sem estar destinada previamente?
Às vezes, 3 segundos de atraso no elevador, leva a que nos encontremos à entrada do metro com um colega que não víamos há muito. Um azar na vida, obriga-nos a mudar de cidade, onde acabamos por encontrar o amor da nossa vida. Um anúncio no jornal leva-nos a tomar uma opção que alterará o nosso futuro completamente, sem o sabermos.
Mais tarde paramos para pensar sobre isto e ficamos sem saber até que ponto não estaria pré-destinado. E se assim aconteceu, porque o foi? E se estava pré-destinado, porque é que de repente tudo se desaba? Deixou de o estar?
Gosto de pensar sobre as casualidades da vida, de certa forma analisá-la, espremer cada momento em busca de respostas. Nem tudo tem de ter resposta, é certo. Há muita coisa que fica por responder, e certamente por questionar.
No dia-a-dia, com o trabalho, com a universidade, com os hobbies, amigos, copos, etc,.... ficamos com muito pouco tempo para analisar a nossa vida, a forma como a levamos, o que queremos para nós, e eventualmente para tomarmos decisões importantes. Há vezes em que até é melhor nem pensar sobre isso. É cómodo. É cómodo não pensar, não falar, não discutir, não questionar; é cómodo comportarmo-nos como os outros, para não ter o trabalho de justificar as diferenças que existem entre todos nós; é cómodo sermos reféns da sociedade e das opiniões; é cómodo não lutar por aquilo em que acreditamos, porque assim "até nem se está mal"; é cómodo deixar andar....
Ao fim ao cabo, muitas vezes o comodismo é a tábua partida na nossa ponte, é o que nos impede de chegar à outra margem, é o que torna o nossa visão difusa, é o que nos leva a tomar as opções erradas.
No fundo, entristece-me saber que "naquela" margem é que seríamos felizes.....
É triste saber que aquela ilha é que tem a praia dos nossos sonhos, e não outra qualquer....
É triste não saber o que fazer...
É triste...
Beijocas e Abraços
Gonça