segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

HABITATS

De tempos a tempos gosto de falar sobre alguns assuntos que fogem um pouco dos do nosso quotidiano, pois é bom para abrir algumas mentes mais desligadas da realidade que, apesar de não ser a nossa, também existe! Este será, portanto, um post em que não falarei de mim, mas sim de algumas coisas que me interessam.

Sempre me interessei muito por espaços desconhecidos, mal explorados. Daí vem a minha "pseudo-paixão" por Astronomia e por fenómenos, ou habitats estranhos à nossa natureza. Disse "pseudo" na medida em que, para além de ler, não faço muito mais para me inteirar do assunto. Já disse num tópico anterior que um telescópio é um eterno desejo meu, por ser um instrumento fundamental para quem deseja aprofundar conhecimentos ou pô-los em prática. No entanto, ainda não levei esse desejo avante, pois só poderia tirar proveito dele no alentejo e não tenho lá ido muito. Poderia sempre aproveitar as Astrofestas que decorrem todos os verões,...mas nem isso eu faço. Não quero dizer com isto que deixei de ter esse desejo, simplesmente está um pouco desligado, de momento.

Para além da astronomia, o oceano também me fascina. É o nosso universo, o nosso pequeno mundo desconhecido. Como sabem 3/4 da Terra são cobertos por água, em que apenas 1% é água doce.....e dessa, uma parte ínfima é potável.
O Homem, de uma forma geral, há muito explora os recursos marinhos, mas só para sua subsistência. De há umas décadas para cá a oceanografia desenvolveu-se, surgiram novas descobertas, explorou-se uma ínfima parte do oceano e desses projectos pioneiros retiraram-se conclusões fascinantes. No entanto, na sua grande generalidade, e como em todos os campos da ciência, o conhecimento que temos dos oceanos é proporcional ao investimento que tem sido feito até hoje. Os EUA são os maiores investidores em ciência, investindo cerca de 10 vezes mais em programas espaciais do que em projectos de investigação oceanográficos.

Pode-se dizer que actualmente conhecemos melhor o nosso sistema solar, do que o nosso leito marinho. Sabemos muito do que se passa na zona epipelágica e mesopelágica ( vai da superfície até aos 1000m de profundidade) e sabemos "alguma" coisa da zona batipelágica ( pouca ou nenhuma luz, não existem plantas e é o habitat ideal das lulas gigantes, dos cachalotes e dos seres luminescentes ) e quase nada das zonas abissais e hadais ( as formas de vida aí existentes resumem-se a muito mais do que crustáceos, estrelas e pepinos do mar cegos e descolorados).

Ou seja, não conhecemos muito bem cerca de 3/4 dos diferentes oceanos. No entanto, temos a lua toda cartografada e até já enviámos sondas para Marte. Claro que estes projectos são extremamente dispendiosos e necessitam de tecnologia muito avançada pois não é só atirar um calhau ao mar e esperar que bata no fundo! Há que regressar.... e com vida! O Homem não está adaptado a esta tipo de habitats. A cada 10m de profundidade a pressão aumenta cerca de 1 atmosfera. A 100m já são 10atm, a 1000 já são 100atm e a 10km de profundidade são 1000 atm. Ora, 1 atm corresponde, assim de grosso modo, a 800 gramas de peso por centímetro quadrado de área. Assim sendo, e feitas as contas, não seria a nadar que chegariamos lá, pois o nosso corpo teria de suportar cerca de 800 a 900 kilos..... nos pés, nas orelhas, na boca, nos dedos.... ou seja, acabávamos em sopa. Resta-nos, portanto, recorrer à tecnologia. O problema é que os batiscafos são muito dispendiosos, ruidosos, e a recolha dos animais ainda é feita de forma muito deficiente, o que não dá muito jeito se os queremos estudar à superfície. Como já se viu, existem enormes entraves, e isso só se ultrapassa com investimento.

Já no que toca a explorações espaciais, estamos na mesma, apesar de já se ter gasto muito, mas muito mais. Ainda não fomos além da lua. Mais longe, só com recurso a sondas, e as que já sairam do sistema solar, delas não temos rasto!
Num Universo em que a estrela mais próxima de nós está a 4,35 anos luz e em que a nossa própria galáxia tem um diâmetro aproximado de 100 000 anos-luz, resta-nos concluir que nada sabemos...! Para quem não sabe, 1 ano-luz equivale à distância que a luz percorre durante 365 dias. Ora, a velocidade da luz é de aprox 300.000 quilómetros por segundo, o que nos leva a crer que levaríamos 100 000 anos para sair da nossa galáxia e outros tantos para regressar!....isto se a velocidade da luz for constante, o que actualmente anda a ser posto em causa por alguns cientistas. Já para não falar de outros tantos problemas e entraves condicionadas por algumas leis físicas.
Bem, só a nossa galáxia tem centenas de milhões de estrelas, e é apenas uma entre milhares ou milhões. Quando se fala de astronomia, entramos num patamar de escalas e cálculos complicadíssimos e dimensões que estão longe daquilo a que estamos habituados, chegando mesmo a ser inimagináveis. Surgem então diversas questões:
- O que é que existe nesse mundo? Fomos os únicos abençoados a existir num planeta entre milhões? Estamos sozinhos? Quando sairemos daqui?
Como devem calcular, já não serei eu a responder a essas questões e, provavelmente, nem os meus netos. Muita coisa terá de acontecer até que possamos satisfazer estas dúvidas. De qualquer forma, sugiro a leitura do "Cosmos" de Carl Sagan, pois ele pensou nisto e muito mais.

É mais fácil falar das presidenciais ou do filho da vizinha que se meteu na droga, ou da porcaria da impressora lá de casa que por acaso ficou sem tinta, pois é essa nossa realidade. As pessoas de uma forma geral querem lá saber que o Universo está a expandir-se; que pelo nosso sistema solar passam milhares de asteróides do tamanho de estádios de futebol; ou que na fossa das Marianas encontramos seres estranhíssimos.....isso por e simplesmente não interessa! Não se bebe, não se come e não me paga o automóvel!

- "O quê?? O que é isso? Isso aconteceu? Porquê? Então mas.... isso afecta o défice? Vou receber menos? A gasolina vai aumentar...?"

Este seria o pensamento do comum mortal perante estas questões, simplesmente porque não lhe afecta directamente o dia-a-dia, não é isso que lhe dá dinheiro para alimentar a família ou para ir para os copos. Não dá, é certo, mas contribui. Sem exploração espacial não existiriam satélites, sem satelites as telecomunicações não seriam as de hoje e telemóveis era coisa só para sonhadores. - "Quem me dera! Bons tempos!" - dirão alguns! O problema é que também não poderia ir visitar a prima à Austrália, navegar na internet, ter GPS no automóvel, ou mesmo fazer uma coisa tão básica como ver televisão.
Só se começa a dar valor a este tipo de investimentos quando o retorno é significativo a curto prazo. Quando não se vêem resultados ao fundo do túnel é complicado recolher investimentos. São inúmeros os exemplos de projectos financiados, sabe Deus como, à custa de visionários e sonhadores que fazem tudo para levar adiante aquilo em que acreditam.

Quando falamos de animais sem olhos, lulas gigantes, habitats desconhecidos, cúmulos estelares, buracos negros, quasares e luas geladas estamos a entrar num mundo que, apesar de não ser interessante para todos, é também o nosso mundo. Nem tudo na vida se resume a política, futebol, amores e morangos com açucar... há muito mais por aí para se descobrir. Como alguém disse um dia, pior que ser ignorante, é ser-se indiferente. Nós vivemos com os pés presos na terra, e normalmente só nos importamos com o que se passa à superfície. Não podemos, ou não devemos, ser indiferentes com o resto. O nosso copo de água existencial é tão pequeno para fazermos nele tanta tempestade.

Pensem nisso :)

Beijocas e Abraços

Gonça


Se quiserem ver fotografias alusivas a este post, podem consultar dois excelentes sites:

http://www.exploretheabyss.com/
http://www.nasa.gov/externalflash/YIR2k5_front/index.html

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