sexta-feira, 8 de outubro de 2004

O Saber não ocupa lugar....




Realmente, a época de início de ano lectivo é sem dúvida especial. O reencontro dos colegas, as disciplinas novas, a ocupação mental ao abordar a temáticas recentes, é de facto uma benção pra quem ainda estuda.

Não há duvida que os estudantes, enquanto vivem essa fase, não dão o devido valor ao facto de terem a possibilidade de andar numa Universidade, de poderem explorar novos horizontes, que para alguns são muitos distantes, ou até impossíveis de alcançar.

Até há uns anos atrás, mais de metade da população portuguesa era analfabeta. Hoje, essa percentagem é muito inferior, e a que ainda resta, é motivada por uma faixa etária que, infelizmente, mesmo nos dias de hoje, não teve possibilidade ou motivação para aprender sequer o abecedário.

No entanto, apesar de a iliteracia ter diminuido drasticamente, nem por sombras resultou numa melhor empregabilidade. As taxas de desemprego aumentam de dia pra dia, sendo o sector dos Licenciados, ou de um modo geral aqueles que têm maiores habilitações, a que mais sofre.
É verdade, de facto as coisas estão complicadas, pois em meados dos anos 90 começou a pegar a moda do "Ensino Superior" e da necessidade de ter o chamado "canudo" pra vingar, como garantia de sucesso profissional. Mas o sonho caiu que nem gotas de chuva em dia de tempestade....

A sociedade rebenta pelas costuras de Licenciados, principalmente nos grandes centros urbanos, nomeadamente nas áreas das humanidades, conhecidas por terem pouca aplicação prática no mercado de trabalho. Surge então o apelo às novas tecnologias e às áreas das artes e ciências, mas mesmo assim, até nessas que segundo as estatísticas estão em falta, as saídas profissionais estão limitadas.

Contudo, e colocando de parte um pouco o drama que é o desemprego em toda a Europa, temos o reverso da medalha. As sociedades desenvolveram-se, a produtividade aumentou exponencialmente, a "culturalização" dos cidadãos cresceu na mesma medida, e não há duvida que a sapiência é o motor dos povos modernos.

As pessoas interessam-se mais pelo que se passa no mundo, a globalização motivou a partilha das preocupações à escala mundial, o eventos culturais estão na moda, as cidades têm mais vigor e respira-se conhecimento, informação, interesse pelo Porquê, pelo Onde, pelo Quando, pelo Quem,....... e tudo, graças ao ensino! Esse grande pilar das civilizações!

O livro é a base de tudo. Actualmente, a internet é a biblioteca do séc XXI, a uma escala nunca antes vista, possibilitando uma troca de informação, acessível a todos, por quem tiver interesse em consultá-la. E quem motivou isso? As Universidades, claro está! É aqui que começa a investigação, que os alunos ganham motivação para explorar novos conhecimentos, que a frase " o saber não ocupa lugar" começa realmente a fazer algum sentido.

Por tudo isso, sinto-me feliz no regresso às aulas. Apesar de não ser um aluno exemplar, sinto um enorme prazer em aprender coisas novas, em trocar idéias, em saber que existe algo para além do que julgávamos ser possível. Estamos rodeados de pessoas com um nível intelectual semelhante ao nosso, sentimo-nos bem em dialogar, em procurar ultrapassar etapas e objectivos ( se bem que puramente académicos, não se comparando com os que são impostos profissionalmente) , criamos amizades para a vida, temos oportunidade de lidar com situações que não teríamos se nunca tivéssemos feito parte deste mundo e, sem dúvida, uma Universidade "abre" a mente, supostamente, a quem por lá passa.

Uma Universidade, como a própria palavra sugere é "universalidade" - pois é uma instituição académica que agrega vários institutos superiores, vulgarmente conhecidas por"Faculdades" - onde encontramos pessoas de várias culturas, com diferentes saberes, experiências de vida, interesses.
No meu entender, apesar de as sociedades modernas estarem de pé atrás no que diz respeito à formação dos actuais "doutores" e quando as pessoas se questionam se realmente vale a pena investir numa formação superior, eu digo: VALE! É a melhor coisa que se pode fazer pra crescer e ganhar maturidade, riqueza mental.
Quando bem vivida e aproveitada, a Universidade, para além de formar doutores, arquitectos e engenheiros, forma também cidadãos. Ganhamos um "background", racha-nos a cabeça de tal forma, que é impossível entrar-se nela e sair da mesma maneira, inócuo, indiferente ao que se viveu e experimentou. Crescemos em todos os sentidos.

Basta reparar na abrangência de assuntos que normalmente se experimenta num grupo de pessoas formadas, e compará-la com a de um grupo que não tem qualquer formação superior. Tirando, obviamente, as excepções à regra, quem passa por uma Faculdade, desenvolve uma riqueza mental, um raciocínio, um interesse pelo que o rodeia, que não tem qualquer tipo de comparação. De uma forma geral são pessoas mais interessadas e com uma cultura mais vasta.

Conclusão, pior que ser ignorante, é ser-se indiferente, não ser interessado, e deixar passar por entre os dedos a oportunidade de aprender mais, e sempre mais. Não explorar a grandiosidade e as capacidades do nosso cérebro, é morrer, é deitar para o lixo todo um potencial que pode estar escondido em qualquer um de nós. Para isso, claro está, há que ter a oportunidade para isso, mas também a força de vontade. Com ela movemos montanhas.

Espero com isto, ter motivado quem agora iniciou o seu ano académico 2004-2005, a esforçar-se, e a ganhar moral para os próximos meses. Não pensem só no canudo e no que ele vos poderá proporcionar, pensem também nos conhecimentos que ficam para a vida e na base de partida para muitos outros conhecimentos que poderão vir a obter. Esta mensagem é também para aqueles que já acabaram o curso e acham que basta, que chega de estudar. Afinal de contas, o fundamento de qualquer Universidade é: ensinar-nos a pensar, a criar o nosso próprio caminho e a nunca desistir de saber mais, porque afinal de contas....

...... "o saber não ocupa lugar".

Vamos é ver agora se eu próprio sigo as minhas linhas de pensamento...... he he he

Bom ano académico

Beijos e Abraços

6 comentários:

minabomb disse...

sim...realmente vamos a ver se segues as tuas linhas de pensamento...:)
saber é sempre importante, estudar como se estuda em Portugal, nem sempre, porque passas mais tempo a decorar coisas inúteis e que te esqueces, do que a dar coisas realmente com fundamento e com um objectivo. Eu diria mais, e estou a ser reaccionária, que o estudo em Portugal é um estudo de decorar e não de saber...e isso está muito mal, e é por isso que este país não avança. Porque as pessoas limitam-se a decorar o saber que está compilado e não aprendem o suficiente por si mesmas, para desenvolverem coisas no futuro. Há que ter espírito de iniciativa. A universidade, é um bom modo de começar, mas não nos podemos restringir aquilo que ela ensina. Temos sempre de aprender coisas por fora. E mesmo, quando o curso estiver acabado, continuar a estar motivado por coisas novas.
Já acabei o curso há dois anitos e sinto que ainda sei tão pouco e há tanto para aprender. A mim, aquilo que me falta é tempo.
Este blog é um blog fantástico e consegues até surpreender-me com as tuas tiradas de mestre.
Continua com muita força.....com muita força...que ninguém pode parar!
ok....eu páro....

gonca disse...

O "decorar" é realmente um mal de algumas cadeiras, não todas, e infelizmente ainda é um método valorizado por alguns professores.

De qualquer forma, todos sabemos que não podemos contar somente com o que nos ensinam, pois temos de fazer por nõs proprios pra vingar e ser melhor que os outros...

Obrigado pelos elogios Mina :)

Beijoca

Anónimo disse...

.......bom eu gostava de comentar mas são duas e meia da manhã e por isso já não estou na posse de todas as minhas capacidades, mas andas lá perto miudo, continua a tomar esses comprimidos e a ingerir cogumelos mágicos que vais ver onde vais parar, não deixes essa gente não!!! Ass: Curto

Anónimo disse...

Querido Gonça:
Não te quero desiludir, muito menos desanimar, mas, sabes tão bem qt eu k essa euforia dá-se todos os anos... Começamos sempre com uma granda pica, as saudades das aulas, dos amigos, sentimos necessidade de estar ocupados, de aprender algo novo, de enriquecer o nossos conhecimentos, de nos tornar-mos úteis à sociedade e claro, o homem, sendo um animal de hábitos, precisamos de voltar à nossa rotina habitual. Acabam-se as férias, começa a correria para o trabalho, para as aulas, chega o frio e a chuva, tudo muda... O entusiasmo aumenta, a quebra da rotina nas férias, aproxima-se um novo ano, novas cadeiras, novos professores, o reencontro dos colegas, a partilha das emoções, a necessidade de mudança é muita nesta fase.
O maior problema de tudo isto, é k passado 1 mês de aulas, de horários estabilizados, professores apresentados e exames marcados, já estamos completamente com os cabelos em pé e a sonhar com as próximas férias que se aproximam. Porque será k todo o entusiasmo vai tão depressa como vem?
Enquanto estudantes, choramo-nos porque estamos fartos das aulas, dos exames, queremos a nossa indepência, queremos ser alguém diferente na sociedade, acaba-mos o curso e desesperamos pq passado um tempo estamos fartos do trabalho, precisamos de aulas, de amigos, de festas, de férias do carnaval, páscoa, natal, verão, etc, etc,...
Enfim, nunca estamos contentes, sentomos sempre a falta de algo e temos uma enorme necessidade de uma alteração constante na nossa vida. O pior, é k agora acordo todos os dias e penso, terei de ir trabalhar todos os dias??? Será k nada se altera.
Bem com isto tudo, tb quero dizer que aproveita a melhor altura da tua vida, e k o tempo de estudante deixam saudades k nunca esperámos.
Muitos beijinhos e um bom ano para ti.
Ass. Liliput

gonca disse...

Obrigado pela tua participação Bode! Eu não me desvirtuo, está descansado!!! Nem com cogumelos nem com nada! Apenas gosto de escrever umas coisas de vez em quando.

Abraço

gonca disse...

Pois é filipa, o homem é um daqueles "bichos" raros que nunca está contente com nada, e as fases de ânimo são também, normalmente, efémeras.... no entanto dão-nos prazer, e eu gosto de ter prazer. ( cuidado com essas mentes mais perversas )

Em relação à fase mais feliz da vida.... é com certeza a que se vive mais intensamente, mas nem por isso a melhor. A melhor mesmo foi a dos 12 aos 18, sem dúvida.

Quanto mais velhos, menos piada achamos à vida, é bom que comecemos a reflectir se estamos no bom caminho.

Beijos